Papa: não à ilegalidade e sim à solidariedade
O Papa Francisco participou da sessão final dos “Encontros do Mediterrâneo”, em Maselha. Desde o dia 18 de setembro, bispos e jovens de diversas realidades do Mediterrâneo, aboradaram os temas da desigualdade econômica, migrações e alterações climáticas. “O verdadeiro mal social não é tanto o crescimento dos problemas, mas sobretudo a diminuição do cuidado que se lhes presta”, destacou o Santo Padre em seu discurso, que marcou momento central de sua 44ª Viagem Apostólica Internacional.
Thulio Fonseca – Vatican News
O momento central da 44ª Viagem Apostólica Internacional do Papa Francisco, foi a sua presença no encerramento dos “Encontros do Mediterrâneos”, que em sua terceira edição aconteceu em Marselha, na França. Ao chegar no Palácio do Farol, sede do encontro, o Pontífice foi recebido pelo presidente da República da França, Emmanuel Macron, e por sua esposa. Também acompanharam este momento o arcebispo de Marselha e o prefeito da Cidade.
Após a saudação inicial por parte do arcebispo, e da exibição de um vídeo-síntese dos “Encontros do Mediterrâneos”, uma jovem italiana que atua como voluntário em uma casa de acolhimento de refugiados na Grécia e um bispo albanês que migrou para a Itália testemunharam suas histórias e destacaram a importância dos dias de reunião, ao tratarem das diversas realidades mediterrânicas.
Seguiu-se então o discurso do Papa, que demonstrou sua alegria e gratidão por estar presente no encerramento deste importante evento. Francisco evidenciou as características históricas de Marselha, e disse que a cidade nos diz que, apesar das dificuldades, a convivência é possível e geradora de alegria. “No mapa, entre Nisa e Montpellier, parece quase desenhar um sorriso; e assim me apraz pensá-la: como o sorriso do Mediterrâneo”, afirmou o Pontífice.
O Santo Padre abordou o significado do mar, e tudo aquilo que ele representa, seja historicamente ou nos desafios da atualidade, e ressaltou que o Mediterraneo tem uma vocação específica:
“No mar dos conflitos de hoje, estamos aqui a fim de valorizar a contribuição do Mediterrâneo, para que volte a ser laboratório de paz. Pois esta é a sua vocação: ser lugar onde países e realidades diferentes se encontrem com base na humanidade que todos partilhamos, e não nas ideologias que se contrapõem. É verdade que o Mediterrâneo exprime um pensamento que não é uniforme e ideológico, mas poliédrico e aderente à realidade; um pensamento vital, aberto e conciliador: um pensamento comunitário. Quanto necessitamos dele no momento atual, quando nacionalismos antiquados e belicosos querem fazer cair o sonho da comunidade das nações! Mas lembremo-nos de que, com as armas, se faz a guerra, não a paz; e com a ganância de poder volta-se ao passado, não se constrói o futuro.”
O Papa recordou as inúmeras pessoas que vivem imersas na violência e padecem por situações de injustiça e perseguição. “Penso em tantos cristãos, muitas vezes obrigados a abandonar as suas terras ou a habitá-las sem ver reconhecidos os seus direitos, sem gozar de plena cidadania. Por favor, empenhemo-nos para que quantos fazem parte da sociedade possam tornar-se cidadãos de pleno direito”, ressaltou Francisco ao se recordar dos migrantes.
O Pontífice sublinhou que esta situação não é uma novidade dos últimos anos, “nem este Papa vindo da outra parte do mundo é o primeiro a senti-la com urgência e preocupação”, destacou, “a Igreja fala disto com tons vivos há mais de cinquenta anos”.
Para o Pontifice é certo que estão à vista de todos as dificuldades em acolher, proteger, promover e integrar pessoas não esperadas, o critério principal, porém, não pode ser a manutenção do próprio bem-estar, mas a salvaguarda da dignidade humana. “Aqueles que se refugiam junto de nós não devem ser vistos como um peso a carregar: se os considerarmos irmãos, aparecer-nos-ão sobretudo como dons”, afirmou o Papa.
“Pensando no mar, que une tantas comunidades católocas diversas, creio que se possa refletir sobre percursos de maior sinergia, talvez avaliando mesmo a oportunidade de uma Conferência dos Bispos do Mediterrâneo, que permita novas possibilidades de intercâmbio e dê maior representatividade eclesial à região”, disse Francisco, pensando nos desafios da questão migratória, sendo necessário desenvolver um trabalho em prol de uma pastoral específica ainda mais conectada, de modo que as dioceses mais expostas possam assegurar melhor assistência espiritual e humana às irmãs e aos irmãos que chegam necessitados de tudo.
O Santo Padre concluiu o seu discurso evidenciando a juventude: “jovens bem formados e orientados para fraternizar poderão abrir portas inesperadas de diálogo. Se queremos que se consagrem ao Evangelho e ao nobre serviço da política, é preciso antes de tudo que nós próprios sejamos credíveis: esquecidos de nós mesmos, livres de autorreferencialidade, dedicados a gastar-nos incansavelmente pelos outros”, exortou Francisco.
Em suas palavras finais aos participantes, o Papa Francisco lhes encorajou:
“Continuai em frente! Sede mar de bem, para fazer frente às pobrezas de hoje com uma sinergia solidária; sede porto acolhedor, para abraçar quem procura um futuro melhor; sede farol de paz, para atravessar, através da cultura do encontro, os tenebrosos abismos da violência e da guerra.”