A Vocação como resposta ao amor
No Documento de Aparecida, o chamado a toda criatura tem sua origem no Amor Trinitário, que vem ao nosso encontro e convida a participar de sua vida: um Deus que ouve o clamor de seu povo e desce para libertá-lo, fala aos seus chamados, fala pela boca dos profetas (Is 6,1-8s), combate por aqueles que ama (1Sm 17,37s), não abandona os que seguem a sua voz (Mt 28,20).
Em Jesus Cristo, plenitude da revelação de Deus contemplamos o amor misericordioso do Pai, a vocação, a dignidade e o destino da pessoa humana (DAp, n.6); chama a humanidade a tomar parte da sua vida divina (DAp, n.27), a sermos filhos pela fé em Cristo (Gl 3,26), herdeiros do Reino (Rm 8,17), unidos em um só corpo (Ef 4,4), partícipes da herança eterna (Ap 21,1). É este o amor recebido pelo Pai em Cristo, pelo Espírito Santo, que nos define (DAp, n.14).
Somos convidados a redescobrir a beleza e a alegria de sermos cristãos “com o desafio de promover e formar discípulos e missionários que respondam à vocação recebida e comuniquem o dom do encontro com Jesus Cristo, para que Ele seja encontrado, seguido, amado, adorado, anunciado e comunicado a todos” (DAp, n.14).
Bento XVI no discurso inaugural da 5ª Conferência de Aparecida recorda-nos que “só quem reconhece a Deus, conhece a realidade e pode responder a ela de modo adequado e realmente humano” (DAp, n.42). Resposta de amor e gratidão ao Amor recebido. Jesus Cristo nos oferece uma palavra viva, capaz de ser esperança, ressurreição e fonte de vida eterna. Entrega a vida para ganhá-la (Jo 12,25), gasta sua vida como sal e luz (Mt 5,13-14), caminha de mãos dadas com toda a humanidade (DAp, n.109-110). Alcançados pelo Amor de Deus, pela graça de Deus, os discípulos e missionários lançam-se no cuidado da vida dos mais frágeis.
A luz de Cristo Ressuscitado somos chamados a contemplar o mundo e responder a nossa vocação a partir de Cristo e do seu mistério, plenitude do cumprimento da vocação humana e seu sentido (DAp, n.41). Necessitamos fazer-nos discípulos dóceis e ter o zelo missionário que nos consuma para levar a todos o sentido completo e unitário da vida humana. A partir da contemplação de Jesus Cristo, morto e ressuscitado, encontraremos o rosto humilhado de tantos homens e mulheres e a vocação de cada um à liberdade dos filhos de Deus, à qual são chamados.
É nos passos de Jesus que a Igreja cumprirá a sua missão. Igreja peregrina, que no amor-serviço alcança a humanidade; uma Igreja Mãe e Pastora que não se omite; uma Igreja que vai às periferias do mundo e do ser. O discípulo missionário deve ser sustentado pelo Amor do Senhor. Uma vocação que deve ser alimentada pela intimidade com o Senhor, que se realiza na Eucaristia.
O discípulo missionário “há de ser um homem ou uma mulher que torna visível o amor misericordioso do Pai, especialmente para com os pobres e pecadores” (DAp, n. 147) e nisto está seu caminho de santificação em atitude vigilante (DAp, n.148). Os chamados pelo Senhor devem anunciar o Reino de Deus, inseridos na missão de Cristo… (DAp, n.144). São convocados também, à comunhão com a Igreja. Sem esta comunhão não há discipulado. O caminho do discipulado requer formação continuada, um acompanhamento permanente que leva à intimidade com Cristo e entrega amorosa a Deus. O discípulo é alguém apaixonado por Cristo, que reconhece como mestre que o conduz e acompanha (DAp, n.276).
Maria, Mãe e Discípula Missionária é modelo dos vocacionados (as). Ela é evocada como “a máxima realização da existência cristã” por meio de sua fé (Lc 1,45) e obediência à vontade do Pai (Lc 1,38; DAp, n.266). Recordemos de que ela é a mais perfeita discípula do Senhor (LG, n.53). Ela concebeu, educou, acompanhou o seu Filho até seu sacrifício definitivo, nos ensina a viver o discipulado missionário e participa de nosso percurso formativo rumo ao nosso total sacrifício de vida junto com Cristo. Maria, Mãe da Igreja, nos reúne como irmãos e irmãs em uma mesma família. Ela forma novos missionários, brilha diante de nossos olhos como imagem acabada e fidelíssima do seguimento de Cristo (DAp, n.270).
Sejamos Discípulos Missionários que realizam neste mundo a vocação recebida de Deus, como resposta ao seu Amor infinito em favor da humanidade, em especial aos mais frágeis.
DOM PROTOGENES JOSÉ LUFT, SdC.