Quem são os “desingrejados” do Brasil?
Pela primeira vez, em 2022, o Censo do IBGE calculou o número de estabelecimentos religiosos no Brasil. A sondagem indicou 579,7 mil estabelecimentos religiosos. O que causa impacto é saber que são mais do que as escolas e creches, que somam 264,4 mil; e mais ainda do que os estabelecimentos de saúde, que são 247,5 mil. Como foi a primeira vez que esse dado foi levantado, não é possível falar em crescimento ou diminuição em relação a outros Censos. O resultado completo deste Censo ainda não fui publicado integralmente, mas, relacionando com o de 2010, existem muitas instituições religiosas e menos fiéis.
Novo perfil religioso
Os dados do último Censo, realizado em 2022 foram apresentados de maneira preliminar no Curso para bispos realizado em janeiro, no Rio de Janeiro. Segundo Dom Jaime Spengler, presidente da CNBB, o percentual de católicos chega a 50%. A população que se declara evangélica é composta por aproximadamente 22% dos brasileiros, contudo, chama a atenção os “sem religião” que já somam 8% da população.
No Brasil a Igreja Católica se organiza em 279 circunscrições eclesiásticas, e maior parte dioceses, arquidioceses e prelazias. São mais de 12 mil paróquias, assistidas por 22 mil padres. Os fiéis atendidos são 123,2 milhões, segundo dados do Censo de 2010.
Segundo Dom Jaime, “há estudos acadêmicos que apontam para uma espécie de migração frequente de uma denominação religiosa para outra até abandonar formas de pertença”, disse o purpurado à ACI Digital.
O arcebispo se declarou espantado com o fenômeno dos “desingrejados”, gente que frequentou igrejas, que tem fé em Deus, mas não se sente afiliado a nenhuma. Segundo dados do IBGE, de 2010, 21% dos que se dizem evangélicos, não são membros oficiais de uma igreja e são classificados como “cristãos evangélicos não determinados”. Para efeitos de comparação, a igreja evangélica Assembleia de Deus, o maior grupo evangélico do país, tem 12 milhões de fiéis no Brasil; os “desingrejados”, ou “não determinados” ficam logo atrás com mais de 9 milhões de brasileiros.
Novos tempos
“Estamos experimentando uma transformação cultural, tecnológica, social. Encontrar métodos, meios, linguagens adequadas para a transmissão do Evangelho de modo que corresponda às exigências do tempo presente requer abertura de mente e de coração, disposição para ler os sinais dos tempos, atitude de escuta e acolhida, capacidade de diálogo também com as diversas ciências – em especial com as ciências humanas, mas não só! Não existe uma resposta pronta aos desafios que se apresentam”, explicou o cardeal.
A Igreja Católica enfrenta o decréscimo de seus fiéis já há algumas décadas, mas, mais do que preencher fileiras e aumentar números, se preocupa também com o fenômeno da indiferença religiosa e dos “desingrejados”. Para Dom Jaime, “o grande desafio da Igreja é o de transmitir a fé recebida dos apóstolos às novas gerações, a partir de uma linguagem adequada”.