A Igreja que distribui a Eucaristia partilha também a compaixão.
Muitos viram nessa narrativa da multiplicação dos pães o protótipo de organização da comunidade cristã.
Os discípulos de Jesus são formados para a confiança na graça de Deus.
Eles aprendem a iniciativa e a liderança: distribuem o alimento do céu sem perderem a consciência social.
O texto tem muitos elementos literários que se aproximam da instituição da Eucaristia como: ao entardecer… trazei-os aqui… distribuir o alimento… João no seu Evangelho associa a Eucaristia o serviço aos irmãos
(lava-pés). Mateus associa a Eucaristia à responsabilidade pela necessidade do outro.
A narrativa de Mateus é construída a partir de símbolos: 5 pães e 2 peixes igual a 7, que é o número da plenitude, da totalidade, da perfeição; são 12 os cestos das sobras; são cinco mil os que comem.
Os relatos ganham um caráter social.
A Igreja que distribui a Eucaristia partilha também a compaixão.
Os primeiros cristãos tinham consciência a respeito das relações entre Eucaristia e responsabilidade social.
A Igreja deve relembrar às comunidades a missão dada por Jesus: “Dai-lhes vós mesmos de comer”. Seguir Jesus é transformar o nosso mundo. “Nenhuma pessoa passava fome, porque todos colocavam tudo em comum”.
Queres honrar o Corpo de Cristo? Então não o desprezes nos seus membros, “porque tive fome e me destes de comer”… Enquanto adornas a casa do Senhor, não deixes o teu irmão na miséria, pois é um templo e de todos o mais precioso.
A Eucaristia clama por uma nova ordem econômica e para a globalização da solidariedade. Na Exortação Apostólica Gaudete et Exultate, o Papa Francisco nos lembra: “É nocivo e ideológico também o erro das pessoas que vivem suspeitando do compromisso social dos outros considerando-o algo superficial, mundano, secularizado, armamentista, comunista, populista. A defesa do inocente nascituro deve ser clara, firme e apaixonada… igualmente é sagrada a vida dos pobres que já nasceram e se debatem na miséria, no abandono, na exclusão… não podemos propor-nos um ideal de santidade que ignore a injustiça deste mundo…” (GeE, n. 101). Pe. Pedro Arrupe, Propósito-Geral dos Jesuítas, no Congresso Eucarístico de Filadélfia em 1976 assim se expressava: “se em alguma parte do mundo existe fome, nossa Celebração Eucarística está de alguma maneira incompleta”.
A fraternidade cristã se alcança com profecia e compaixão.
“Na Eucaristia contemplamos e adoramos
o Deus do amor. É o Senhor que não divide ninguém, mas divide a si mesmo… Não podes comer este Pão,
se não deres o pão aos famintos.
Nossas Eucaristias transformam o mundo, na medida em que nós mesmos
nos deixamos transformar, tornando-nos pão partido para os outros”, nos ensina o Papa Francisco por ocasião da Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo em 6 de junho de 2021.
O texto escolhido para motivar a Campanha da Fraternidade, nos desafio a contemplação do não dito, do não expresso, do indizível.
Na narrativa de Mateus, no princípio há uma multidão faminta e os discípulos não sabem o que fazer.
Nos fins todos estão saciados e o alimento ainda sobra. O que há entre uma situação e outra? Há Jesus que ensina os discípulos o que precisa ser feito. Há a graça advinda de Jesus, mas também o serviço
que cada discípulo aprende e executa.
Há apenas um fio a costurar todos os acontecimentos dessa narrativa e tal fio é o do mistério inefável da compaixão de Deus, que não se deixa levar pelo sentimento, mas se torna ação concreta e saciedade das necessidades mais simples, mais humanas. Olhando a situação da fome no Brasil nos deparamos com a fartura de produção e exportação de alimentos, temos certeza que nos
faltam Jesus e a sua graça. Fica claro que falta o serviço do discípulo, o nosso serviço. A fraternidade cristã só se torna realidade como profecia e compaixão – e há que se dizer que, diante da fome, a profecia começa sendo compaixão para depois torna-se ação concreta individual, comunitária, eclesial e socioambiental.
Concluindo a reflexão sobre os textos da Palavra de Deus relacionados com a Campanha da Fraternidade temos a certeza que eles iluminam e orientam a vida de nós, membros da Igreja.
Queremos acolher e seguir a mensagem de Jesus, procurando sempre nos conduzir pelo seu exemplo e a orientação que nos dá para a vivência da fé; uma fé que nos compromete com nossos irmãos e com toda a humanidade.
Dom Protogenes José Luf
Diocese de Barra do Garças – MT Informativo Edição 145 | Julho 2023.