Idoso morre antes de ir a júri popular por envenenar achocolatado dado a garoto
Adônis José Negri iria a júri popular nesta 3ª, seis anos após o crime; ele morreu de cirrose.
Kethlyn Moraes | RDNews
Adônis José Negri, de 70 anos, acusado pela morte do pequeno Rhayron Christian da Silva Santos, de 2 anos, morreu por consequência de um câncer, antes de ser julgado pelo crime. O júri popular seria realizado nesta terça-feira (28), na 1ª Vara Criminal de Cuiabá.
A criança morreu em 2016, após ingerir um achocolatado envenenado. O julgamento do crime estava marcado para iniciar às 13h30, composto por 25 jurados. No entanto, o advogado de defesa de Adônis, Raul Brandão, informou que o paciente morreu em decorrência de cirrose hepática e diabetes durante a pandemia, em 2020.
Ele afirma que havia perdido contato com o cliente e quando recebeu a intimação, ao tentar contatá-lo, encontrou o atestado de óbito Sistema Eletrônico dos Registros Públicos (Serp). Adônis residia em Sinop e estava solto, aguardando o julgamento. O advogado informou que ainda não foi confirmado se o júri popular acontecerá mesmo assim. “Talvez seja feito o julgamento de honra, porque ele morreu sem um julgamento da Justiça, só com uma ‘condenação’ pela opinião pública”, afirmou.
Investigação
Rhayron morreu no dia 25 de agosto de 2016, uma hora após ingerir o achocolatado que o pai havia comprado de um amigo, Deuel de Rezende Soares, de 27 anos, por um preço abaixo do valor vendido nos mercados. As investigações apontaram que o achocolatado foi adulterado por Adônis José Negri para se vingar de Deuel, que teria furtado sua casa algumas vezes. Os dois moravam no mesmo bairro da família de Rhayron. A polícia informou que Deuel é usuário de drogas e costumava cometer pequenos furtos e roubos naquela região.
Em entrevista ao , em janeiro, a mãe da vítima, Dani Cristina dos Santos, de 32 anos, contou que aguarda ansiosamente pelo julgamento e que espera justiça há seis anos. “Já se passaram seis anos e nada aconteceu. Aconteceram casos parecidos e já tiveram julgamento, prisões, mas o caso do meu filho, não. Não vamos deixar esquecer, foi a vida de um anjo”, diz.
O caso
Os pais afirmaram que compraram o produto com a embalagem fechada. No entanto, após a morte do garoto, foi encontrado um furo por onde o veneno teria sido introduzido. Na época, o achocolatado foi enviado para perícia e o laudo divulgado pela Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp) comprovou o envenenamento.
Logo após ingerir a bebida e passar mal, Rhayron foi encaminhado à Policlínica do Coxipó, em Cuiabá, onde sofreu uma parada cardiorrespiratória e morreu. A mãe de Rhayron contou que, minutos após ingerir o achocolatado, o filho apresentou falta de ar, ficando com o “corpo mole e com princípio de desmaio”. A criança foi levada para atendimento na Policlínica do Coxipó, onde, por cerca de uma hora, os médicos tentaram reanimá-la. No entanto, o garoto não resistiu e morreu.
Após a morte da criança, a Vigilância Sanitária chegou a pedir a interdição cautelar de todos os produtos da marca Itambezinho, que fossem do lote de fabricação de 25/05/16 com validade até 21/11/16. À época, a empresa, por meio de nota, explicou que aquela era a primeira reclamação que recebia sobre o lote e que auxiliaria na apuração do fato. Posteriormente, Adônis confessou que colocou o veneno na bebida.
O comerciante foi ouvido pela Justiça pela primeira vez em 2018, quase dois anos após a morte do garoto. Ele chegou a ser preso em setembro de 2016, mas foi solto um mês depois. Deuel também foi preso na época e intimado para prestar depoimento.
Em depoimento à Polícia Civil, o comerciante disse que envenenou as embalagens de duas marcas de achocolatado e as guardou na geladeira. Ele alegou que queria matar ratos em sua casa. Na época em que o caso era investigado, a polícia chegou à conclusão de que a ideia de Adônis era se vingar de Deuel, que teria confessado à polícia. Dessa última vez, Deuel levou as embalagens de achocolatado e as vendeu por R$ 10 para o pai de Rhayron.
Além deles, a polícia ouviu a família de Rhayron e outras pessoas envolvidas no caso.