A VOZ DO BISPO

Dai-lhes vós mesmos de comer!

A Campanha da Fraternidade 2023, retoma, no Brasil, um dos grandes flagelos da humanidade, a fome. O tema da Campanha da Fraternidade é: Fraternidade e Fome; o lema é: “Dai-lhes vós mesmos de comer!”; o cartaz revela em primeiro plano o mapa do Brasil, país considerado “celeiro do mundo”. Apesar da riqueza cultural e natural, nosso país carrega um contraste, a fome, que é um contratestemunho, um escândalo. A via possível de conversão das estruturas também está presente no cartaz: as mãos que repartem, partilham. Jesus lembra aos discípulos que a multidão não precisa ir embora e compromete os discípulos e nós, na busca da solução, como lembra o lema. O arroz e feijão, alimento do povo, passam pelas mãos de homens e mulheres que sabem que a solução passa pela partilha fraterna.

Para viver a Quaresma à luz da Campanha da Fraternidade, consiste em vivê-la em espírito de conversão pessoal, comunitária e social. Que a Quaresma seja vivida em forte espírito de solidariedade. Que o nosso jejum abra o nosso coração. Que saibamos encontrar soluções criativas para a superação da miséria e da fome que atinjam a raiz do flagelo.

Além desta fome física, a pessoa humana tem fome de Deus, de paz, fraternidade, verdade… A fome é um desafio social e humanitário; é uma tragédia, um escândalo, é a negação da existência, é um dos resultados mais cruéis da desigualdade. O Papa Francisco, sem rodeios afirma que ‘não há democracia se existe fome’. A fome é um instinto natural e poderoso de sobrevivência, presente em todos os seres vivos; é um presente do Criador para a preservação da vida E o Brasil sente fome: milhões de brasileiros. É pela terceira vez que a CNBB apresenta o tema da fome para a Campanha da Fraternidade (1975, 1985, 2023).

A fome não só é uma necessidade natural, apresenta um fator cultural, porque é veículo de relações entre as pessoas, é um princípio de aliança e comunhão. O Papa Francisco nos 75 anos da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) afirmou: “Para a humanidade, a fome não é só uma tragédia, mas também uma vergonha. Em grande parte provocada, por uma distribuição desigual dos frutos da terra à qual se acrescentam a falta de investimentos no setor agrícola, as consequências das mudanças climáticas e o aumento de conflitos de várias regiões do planeta. Por outro lado, descartam-se toneladas de alimentos. Diante desta realidade, não podemos permanecer insensíveis ou paralisados. Somos todos responsáveis” (16 de outubro de 2020)

Os objetivos Geral e Específicos nos ajudam a enfrentar o flagelo da fome de muitos de nossos irmãos e irmãs. No Objetivo Geral quer se sensibilizar a sociedade e a Igreja para compromissos que transformem esta realidade. Os Objetivos específicos querem compreender esta realidade da fome, a luz da fé; desvelar as causas estruturais; indicar as contradições de uma economia que mata pela fome; Aprofundar e compreender as exigências evangélicas para sua superação; acolher o imperativo da Palavra de Deus que leva ao compromisso e corresponsabilidade fraterna; investir esforços em iniciativas individuais, comunitárias e sociais; estimular a agroecologia e produção de alimentos saudáveis; reconhecer iniciativas conjuntas entre a comunidade de fé e sociedade civil; mobilizar a  sociedade para que haja uma sólida política de alimentação no Brasil, garantindo que todos tenham vida.

Nos próximos meses continuaremos a apresentar a síntese do Texto-Base da Campanha da Fraternidade. Com isso queremos nos unir à Igreja do Brasil, que quer que todos nos sensibilizemos diante do grande mal que é a fome em nosso País. Não se mata somente através das armas, mas se pode matar também pela fome, como a situação atual dos yanomanis nos aponta. Que Deus nos dê um coração aberto diante dessa realidade.

Bispo Dom Protogenes José Luft,

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